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Pedro Rídeman escrevendo da prisão

 

Quem era Pedro Rídeman ?

Pedro Rídeman nasceu em Hirschberg, Silésia, no ano de 1506. Na sua juventude conheceu alguns missionários anabatistas. Depois se converteu e foi batizado.

Devido a sua alta estatura, lhe chamavam de Lang Peter (Pedro Longo). Aos 23 anos de idade, foi ordenado pastor de uma igreja anabatista. Pouco depois, foi preso pelas autoridades católicas e encarcerado por elas durante vários anos. Não obstante, Pedro escapou da prisão no ano de 1523, e foi em direção a Linz, Áustria, e posteriormente a Morávia.

Depois se casou com uma jovem chamada Catalina, mas não deixou de pregar e aconselhar aos novos conversos. Numa viagem missionária que realizou, foi preso de novo.

Estando na prisão escreveu longas e muito carinhosas cartas a sua jovem esposa. Além disso, como era um escritor nato, redigiu durante seus nove anos de encarceramento, o que se considera a melhor descrição da fé cristã da etapa da renovação anabatista. Com o título “Rechenschaft unseres Glaubens” (Uma descrição da nossa fé), foi copiada muitas vezes a mão e impressa por fim pelas irmandades anabatistas da Morávia.

Durante a grande perseguição que ocorreu na Áustria durante os anos de 1547 a 1551, Pedro Rídeman desta forma seguiu servindo ao Senhor e a sofrida igreja. Foi durante essa etapa que os anabatistas cavaram catacumbas subterrâneas onde se escondiam congregações inteiras. Tiravam a terra em baldes durante a noite, e a esparramavam nos campos cultivados para que ninguém se desse conta. Durante esse tempo muitos foram presos e levados até a morte, e muitos dos fracos, apostataram.

O hinos e escritos de Pedro Rídeman, compostos e redigidos durante aquele tempestuoso tempo, tem sido preservados; inclusive o hino que triunfantemente diz:

Totalmente livre,

Jesus me soltou dos laços

Da morte e do poder

De Satanás!

Escreveu estas palavras um pouco antes de sua morte que ocorreu na comunidade de Protko, Eslováquia, no ano de 1556.

A seguir, compartilharemos uma pequena parte de seu livro “Rechenschaft unseres Glaubens”, que redigiu no ano de 1540, em Marburg, Hesse, Alemanha. _______________________________________________

Todos os santos compartilham tudo o que é santo. Pois pertencemos a Jesus. Deus nos dá tudo o que deu a Jesus. Os presentes de Deus não são para nenhuma pessoa em particular. Jesus não guardou nada para si somente, e os membros de seu corpo tampouco fazem isto. O que um membro do corpo tem, o corpo inteiro tem, porque nenhum presente de Deus se destina para o benefício de um só membro em particular. Todos os presentes de Deus são dados para o proveito de todos. Isto é assim quanto aos presentes materiais, como também no caso dos presentes espirituais. Por isso, a comunhão dos santos se mostra não somente com coisas espirituais, mas também com as coisas materiais... como disse Paulo: “Mas, não digo isto para que os outros tenham alívio, e vós opressão, mas para igualdade; neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade; como está escrito: O que muito colheu não teve de mais; e o que pouco, não teve de menos” (2ª Coríntios 8:13-15).

Paulo baseou o seu ensino da igualdade na lei relacionada ao maná. Ao que juntava pouco não lhe faltava. E a cada um foi dado o que necessitava. Se observa na natureza que Deus não deu nenhuma ordem para que fosse propriedade privada de alguém. Deus fez tudo para todos. Foi o homem quem apropriou-se do que não lhe pertencia e não aceitou o que Deus quis lhe dar.

Seguiu nesta direção, apropriando-se do que foi criado por Deus, até que esteve tão afastado dele que esqueceu-se de Deus. Além disso, o homem chegou a considerar certas coisas criadas como seus deuses. O mesmo nos sucederá se nos afastarmos da ordem de Deus.

Para quem fez Deus o sol? Para quem fez os céus? Para quem fez o dia, o ar e as demais coisas criadas, se não que fosse para proveito de todos os homens em comum? Ainda temos em comum os corpos celestes. Isto é devido a que estão tão longe que o homem não pode apoderar-se deles! A maldade é tão grande no homem que se pudesse alcançar o sol, certamente alguém já o teria reclamado como sua propriedade privada.

A estupidez disso se manifesta na incapacidade humana de levar junto de si, alguma possessão ao morrer. A verdade é que nunca nos pertencia. Até Jesus disse: “Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras? E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?” (Lucas 16:11-12).

Ao que chamamos “nossas possessões” na verdade são somente coisas alheias. Pertencem a Deus. Quando a lei mosaica avisou para não cobiçar o alheio, nos deu aviso para não colocarmos o nosso coração ou apegar-nos ao que é terreno e passageiro. A pessoa que quer seguir a Jesus, tem que libertar-se das coisas criadas e também da propriedade privada, tal como Jesus mesmo disse: “Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:33).

O homem nascido de novo, feito conforme a semelhança ou imagem (reflexo) de Deus, se despoja de tudo o que o afasta de Deus: Nisto inclui o empenho pelas posses e pela ganância. Aquele que não se despoja, não é um reflexo de Deus. Disse Jesus, “Em verdade vos digo que, qualquer que não receber o reino de Deus como menino, não entrará nele” (Lucas 18:17). Disse ainda, “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mateus 18:3). As crianças não possuem grandes posses.

Quando nos soltamos das coisas criadas, aí então e que começamos a apegar-nos ao verdadeiro, ao que tem substancialidade até depois desta vida. Quando soltamos as “riquezas” terrenas, encontramos as riquezas verdadeiras. Nosso coração se voltará para as coisas de cima e então será fácil para nós compartilhar com todos os filhos de Deus o que tivermos aqui.

Como os santos compartilham entre eles todos os dons espirituais recebidos, assim também compartilham os bens materiais que Deus os presenteia. Não dizem que algo seja deles em particular, e nesta liberdade mostram que são partícipes da comunhão de Cristo e que tem sido transformados em reflexos dele. Quanto mais o homem se empenha no material e na propriedade privada, mais distante estará da semelhança de Cristo e da comunhão com ele.

Depois que o Espírito Santo começou a dirigir a igreja (no dia de Pentecostes), se estabeleceu gloriosamente a comunidade de bens. Nenhum cristão dizia que algo era seu, e ainda é vontade do Espírito Santo que seja assim: como disse Paulo: “Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros” (Filipenses 2:4). Onde não existe este tipo de comunidade entre cristãos, é como uma falha que na verdade deve ser corrigida.

As primeiras igrejas cristãs conservaram a completa comunidade, não somente no espiritual, mas também no material. O fizeram com muita vontade de coração porque desejavam seguir a Jesus, seu mestre, e chegar a ser como ele e com ele, que vai adiante mostrando-nos sua maneira de viver. Não somente nos deixou exemplo. Nos ordenou segui-lo.

 

 

Todos os textos bíblicos citados neste artigo fazem parte de: A Bíblia Sagrada - Tradução de João Ferreira de Almeida, (ACF) Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil © 1994,1995